segunda-feira, 19 de outubro de 2009

CLARICE LISPECTOR (1926-1977)


Obras principais:

Perto do coração selvagem (1943); O lustre (1946); Laços de família (contos, 1960); A legião estrangeira (contos, 1964); A paixão segundo G. H. (romance, 1964); A hora da estrela (romance, 1977).

Características básicas:

- É a intérprete mais sofisticada da chamada ficção introspectiva.

- Essa literatura intimista coloca, tanto de maneira metafórica quanto realista, as ondulações psicológicas e estados interiores das personagens em destaque.

- No plano da estrutura narrativa, Clarice vale-se do fluxo de consciência e do monólogo interior.

- Sua linguagem é excepcionalmente densa e inovadora.

A hora da estrela

Relativa exceção a esta prosa introspectiva é a novela A hora da estrela, onde um narrador (Rodrigo SM) acompanha a medíocre vida de uma jovem nordestina (Macabéia) que vegeta em São Paulo. Feia, ignorante, humilhada pelas colegas, pelo namorado, pela existência, ela terá o seu momento glorioso, a sua "hora de estrela", conforme lhe profetiza uma cartomante, quando, no fim do relato, é atropelada e morta por um automóvel.

Autobiografia:

Clarice Lispector por Clarice Lispector

JOÃO GUIMARÃES ROSA


Obras principais:

Sagarana (contos, 1946); Corpo de baile (Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, do Pinhém; Noites do sertão; novelas, 1956); Grande sertão: veredas (romance, 1956); Primeiras estórias (contos, 1962); Tutaméia (contos, 1967); Estas estórias (contos, 1969).

Caraterísticas básicas:

- A primeira grande inovação do autor é da linguagem, cheia de arcaísmos, neologismos, onomatopéias, inversões, novas construções sintáticas, etc., e que poderia ser resumida assim:
Linguajar sertanejo + Recriação estilística = Linguagem revolucionária

Observe o início de Grande sertão: veredas:

Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem, não, Deus, esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço; gosto, desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu e com máscara de cachorro.

- O mundo retratado em suas ficções é o do sertão mineiro, um mundo imobilizado no tempo, sem vínculos com o litoral modernizado do país e cuja principal traço é a consciência mítica dos protagonistas. Esta consciência mágica explica o mundo pelo sagrado e pelo fantástico. Assim, os fenômenos naturais indicam sinais de potências misteriosas e inexplicáveis. À medida que a modernidade urbana /capitalista avança, o mítico tende a ser dissolvido.

- A presença do demônio em Grande sertão: veredas faz com que a narrativa se insira na categoria do realismo mágico.

- Alguns contos de Guimarães Rosa são célebres. Entre eles, figuram: A hora e a vez de Augusto Matraga e O burrinho pedrês, de Sagarana; e A terceira margem do rio, de Primeiras estórias.

Grande sertão: veredas

- A temática da "jagunçagem" e a prosa inovadora atingiriam o seu apogeu neste romanace, que se estrutura no jogo dialético do presente e do passado. Assim:

Plano presente:

O ex-jagunço e, hoje fazendeiro, Riobaldo narra a história de sua vida para um "doutor" da cidade. O "doutor" nada declara durante o discurso de Riobaldo, que assim se converte em monólogo. Ao lado das reminiscências, Riobaldo formula uma série de interrogações sobre o sentido da existência, a luta do Bem x Mal, a presença real ou fictícia do demônio, etc.

Plano passado:

Focaliza as experiências de Riobaldo como jagunço, quando realiza sua longa travessia pelo sertão mineiro. Uma travessia exterior por um sertão objetivo, geográfica e historicamente falando. Numa espécie de "banalidade do mal", os bandos armados se exterminam a serviço dos grandes latifundiários. Mas como o "sertão está em toda a parte, o sertão está dentro da gente", essa travessia torna-se interior, levando Riobaldo ao autoconhecimento. A percepção de si mesmo surge do contato com outros homens, em especial da dupla polarizada Diadorim-Hermógenes. O primeiro, mulher camuflada de homem, deflagrará no narrador o processo amoroso. O segundo – força demoníaca - representará o ódio, o sangue e a perfídia.

Não esqueça: A obra de João Guimarães Rosa – embora centrada no mundo sertanejo mineiro –ultrapassa pela linguagem revolucionária e pela indagação a respeito da questões fundamentais do homem (amor, sentido da vida e da morte, mito e razão, etc.) os parâmetros do regionalismo, permanecendo como uma obra de valor universal.

A GERAÇÃO DE 45 NA POESIA


A Geração de 1945

Fortemente marcada pelo fim da Segunda Guerra, pela derrubada da ditadura de Getúlio Vargas e pelo clima de euforia daí decorrentes no país, a geração de 45 colocou em segundo plano as preocupações políticas, ideológicas e culturais dos artistas da década de 30 e privilegiou a questão estética. Assim, a aventura da linguagem, a preocupação com a forma e com o rigor do texto tornam-se o objetivo básico desta geração, que teve grandes expoentes tanto na poesia, quanto na prosa de ficção.

A POESIA

1) JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920 - 1998)

Obras principais:

Pedra do sono (1942); O engenheiro (1945); Psicologia da composição (1947); O cão sem plumas (1950); Morte e vida severina (1956); A educação pela pedra (1966); Museu de tudo (1975).

- Sua obra se articula como uma profunda reflexão sobre o fazer poético. A poesia é entendida como esforço em busca da síntese, do despojamento total. Sua poesia é lenta e sofrida pesquisa de expressão:

"Não a forma encontrada
como uma concha perdida (...)
mas a forma atingida
como a ponta do novelo
que a atenção, lenta, desenrola (...)"

- Os primeiros textos de João Cabral (Pedra do sono, O engenheiro, Psicologia da composição) iniciam a aventura da expressão mínima e contida.

- Em O cão sem pluma a perfeição de sua linguagem encontra uma temática: o rio Capibaribe, com sua sujeira, seus detritos e com a população miserável que lhe habita as margens, trágico espelho do subdesenvolvimento:

"Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa no rio
onde a terra começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem."

MORTE E VIDA SEVERINA

A sua obra mais conhecida (por causa da montagem teatral) traz como subtítulo: Auto de Natal pernambucano. Aqui a técnica despojada do autor realça ainda o aspecto dramático do assunto: a trajetória de um sertanejo que abandona o agreste, rumo ao litoral, encontrando nesta migração apenas a morte. Severino continua seu roteiro até chegar ao Recife. Lá percebe que a miséria continua e resolve se matar. Contudo, lhe chega a notícia do nascimento de um menino, filho de José, mestre carpina. Severino vai visitá-lo e descobre que aquela vida, mesmo franzina, é a prova da resistência de todos os "severinos" do Nordeste.

E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida (...)
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.

2. A POESIA CONCRETA

(Décio Pignatari)


- A partir de 1952, Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos iniciaram a articulação da chamada poesia concreta, em São Paulo, numa revista chamada Noigandres.

- Reação contra a lírica discursiva e frequentemente retórica da geração de 45, a poesia concreta procura se filiar às experiências mais ousadas das vanguardas dos século XX. Ela poderia ser sintetizada assim:

a) linguagem sintética, homóloga ao dinamismo da sociedade industrial;

b) valorização da palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e recompões na página;

c) o poema ganha o espaço gráfico como agente estrutural, em função de que deverá ser lido/visto:

d) utilização de recursos tipográficos, visuais, plásticos, etc.

ovo
novelo
novo no velho
o filho em folhos
na jaula dos joelhos
infante em fonte
feto feito
dentro do
centro


3. FERREIRA GULLAR

Obras principais: A luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975); Poema sujo (1976)

- Iniciou sua obra sob os princípios da poesia concreta.

-Após romper com os concretistas, aproximou-se da realidade popular e do pensamento progressista da época, todo ele ligado ao populismo. Sua poesia torna-se social e, às vezes, excessivamente politizada e prosaica.

- A publicação de Poema sujo, em 1976, representou a superação de seus impasses temáticos e formais. Poema sujo é uma espécie de síntese de Ferreira Gullar. Nele se encontram expressas todas as suas experiências vitais em São Luís, sua aprendizagem da vida, sua visão de mundo, suas angústias e esperanças, numa poesia ao mesmo tempo instintiva e reflexiva. Uma poesia que incorpora as "impurezas" do mundo, ou seja, uma poesia "suja" com os resíduos da realidade.

- Em Poema sujo, as ideias, as sensações as lembranças e a coragem do escritor tipificam-se. tornam-se a imagem do intelectual brasileiro que encontra a sua identidade, em meio às primeiras crises da ditadura militar.

Clique AQUI e leia alguns poemas concretos de Ferreira Gullar.

A GERAÇÃO DE 45 NA PROSA


"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto – e o mundo não está à tona." (Clarice Lispector)

"Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar. Viver é muito perigoso..." (Guimarães Rosa)

A Terceira Fase do Modernismo constitui a Geração de 45, cuja prosa apresenta uma diversidade grande de temas e de linguagem. Todavia, os romances e os contos de dois autores sobrepujam, sobremaneira, os dos outros autores brasileiros que fizeram literatura a partir dos anos 40 até hoje: Guimarães Rosa e Clarice Lispector.
Apesar das profundas diferenças da obra de cada um, Guimarães Rosa e Clarice Lispector apresentam posturas comuns como a insubordinação aos processos romanescos de até então (não seguiram o romance regionalista, o urbano e o psicológico da época) e a constante pesquisa com a linguagem. Por essas razões, ambos são chamados de instrumentalistas, o que significa dizer que se preocupavam muito com o trabalho, isto é, com a melhor elaboração de seus respectivos textos. Além disso, há nesses dois escritores um interesse de universalizar o romance brasileiro, um procedimento bem claro na sondagem do mundo interior das personagens. A diferença mais evidente entre ambos é que em Guimarães Rosa existe ainda a manutenção do enredo com suspense, ao passo que em Clarice Lispector aparece o abandono claro do enredo referencial narrativo e o mergulho nas profundezas da alma de personagens isolados e problemáticos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O ROMANCE REGIONALISTA DE 30


A PROSA DA SEGUNDA GERAÇÃO MODERNISTA

Na literatura regionalista brasileira, podem-se encontrar duas tendências bem distintas: no Romantismo havia a idealização na Natureza e do homem; no Modernismo, há o amesquinhamento da Natureza e do homem.
É compreensível que o romântico José de Alencar tenha feito um regionalismo ufanista, contando as belezas do Brasil de forma superlativa, afinal este país estava nascendo depois de longa dominação portuguesa. As poucas deficiências que esporadicamente o romântico apresentava eram signos de um futuro tedioso e opulento.
Os anos pós-independência, no entanto, não mudaram o Brasil oligárquico da era colonial. A estrutura social vigente na Colônia não se alterou até hoje, não obstante as transformações sociais no mundo e o inchamento das cidades.
Lentamente, alguns romancistas ainda formados no Romantismo foram acenando para uma nova forma de ver a Natureza e o homem do Brasil, calcada em uma visão cética e inquietante. É a força de argumentos realistas incipientes em O Cabeleira, de Franklin Távora, em Inocência, de Visconde de Taunay, em O Missionário, de Inglês de Sousa. A terra brasileira já não é tão dadivosa e o homem, de tão miserável e problemático, virou herói derrotado. Os pobres são tangidos pelos cataclismas e pela injustiça social e os ricos jamais declinam de privilégios em prol de nada.
Essas realidades vão entrando na literatura, mesmo que não resolvidas, e ocupam a obra de quase toda uma geração de romancistas que, apoiados no Manifesto do Recife, sob a liderança do sociólogo Gilberto Freire, em 1927, constitui-se na geração do Romance Regionalista de 30.
Essa geração teve uma visão completamente crítica do Brasil, notadamente no Nordeste, epicentro da miséria e da exploração de seres humanos.
A seca é uma espécie de prova dos nove desses romancistas; a seca, e também o homem miserável, o vaqueiro, o sertanejo, as famílias famintas, a submissão do trabalhador ao latifúndio, o retirante, o coronelismo, o cangaço, o misticismo, a injustiça social.
Dessa geração crítica e engajada, fazem parte José Américo de Almeida, Raquel de Queirós, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado. Existe, ainda, um escritor do Sul que mantém pontos de contato com os nordestinos: Érico Veríssimo, mesmo que o regionalismo deste gaúcho não tenha tido a força da crítica social dos nordestinos.
É preciso considerar também nessa fase uma outra literatura voltada para o intimismo e para a psicologia, a qual se estendeu até a terceira fase do Modernismo. Destacam-se nessa vertente de prosa psicológica os escritores Ciro dos Anjos (O Amanuense Belmiro), Cornélio Pena (Fronteira) e Graciliano Ramos de São Bernardo, Angústia e Caetés, romances especialmente psicológicos.
Considera-se, ainda, a prosa urbana originária no Romantismo e retomada no Realismo-Naturalismo. Érico Veríssimo é o representante desse tipo de prosa na sua primeira fase literária com Clarissa e Olhai os Lírios do Campo.


PENSE E RESPONDA:

1) Que tipo de nacionalismo apresentou essa segunda geração modernista na prosa? Ele se aproxima ou se distancia do nacionalismo praticado pelos românticos?

2) Quais temas foram trabalhados pelos autores da geração do romance regionalista de 30? Qual a região que prevalesce como pano de fundo para esses autores? Por qual razão?

3) Cite os principais autores desse período na prosa.

4) O grupo da geração de 30 se preocupava muito com o engajamento social, em denunciar problemas sociais e realidades massacrantes. Na poesia desse mesmo período observa-se a mesma preocupação social ou os poetas se distanciaram da tendência predominante na prosa?

domingo, 4 de outubro de 2009

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.
Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.
O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.
Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).
Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

COLETÂNEA DE TEXTOS DE DRUMMOND:

1) NÃO DEIXE O AMOR PASSAR

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.
Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.

2) AS SEM-RAZÕES DO AMOR

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

3) A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

4) MEMÓRIA

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

5) PARA SEMPRE

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

6) QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

7) ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU

Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.

8) DESEJO A VOCÊ

Desejo a você…
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Crônica de Rubem Braga
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Uma tarde amena
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

9) PRECISA-SE DE UM AMIGO

Não precisa ser homem, basta ser humano, ter sentimentos.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem imprescindível, que seja de segunda mão.
Não é preciso que seja puro, ou todo impuro, mas não deve ser vulgar.
Pode já ter sido enganado ( todos os amigos são enganados).
Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças e lastimar aquelas que não puderam nascer.
Deve amar o próximo e respeitar a dor que todos levam consigo.
Tem que gostar de poesia, dos pássaros, do por do sol e do canto dos ventos.
E seu principal objetivo de ser o de ser amigo.
Precisa-se de um amigo que faça a vida valer a pena, não porque a vida é bela, mas por já se ter um amigo.
Precisa-se de um amigo que nos bata no ombro, sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo.
Precisa-se de um amigo para ter-se a consciência de que ainda se vive.

10) MÃOS DADAS

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

11) POEMA DE SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

12) CONSOLO NA PRAIA

Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o 'humour'?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A SEGUNDA GERAÇÃO MODERNISTA

Segunda fase Modernista no Brasil - (1930-1945)

Estende-se de 1930 a 1945, sendo um período rico na produção poética e também na prosa. O universo temático se amplia e os artistas passam a preocupar-se mais com o destino dos homens, o estar-no-mundo.

A segunda fase colheu os resultados da precedente, substituindo o caráter destruidor pela intenção construtiva, “pela recomposição de valores e configuração da nova ordem estética”. (Cassiano Ricardo)

Durante algum certo tempo, a poesia das gerações de 22 e 30 conviveram. Não se trata, portanto, de uma sucessão brusca. A maioria dos poetas de 30 absorveria parte da experiência de 22: liberdade temática, gosto da expressão atualizada ou inventiva, verso livre, anti-academicismo.
A poesia prossegue a tarefa de purificação de meios e formas iniciada antes, ampliando a temática na direção da inquietação filosófica e religiosa, com Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, ao tempo em que a prosa alargava a sua área de interesse para incluir preocupações novas de ordem política, social e econômica, humana e espiritual. À piada sucedeu a gravidade de espírito, a seriedade da alma, propósitos e meios. Uma geração grave, preocupada com o destino do homem e com as dores do mundo, pelos quais se considerava responsável, deu à época uma atividade excepcional.
O humor quase piadístico de Drummond receberia influencias de Mário e Oswald de Andrade. Vinícius, Cecília, Jorge de Lima e Murilo Mendes apresentam certo espiritualismo que vinha do livro de Mário Há uma gota de Sangue em cada Poema (1917).
A geração de 30 não precisou ser combativa como a de 22. Eles já encontraram uma linguagem poética modernista estruturada. Passaram então a aprimorá-la e extrair dela novas variações, numa maior estabilidade.
O Modernismo já estava dinamicamente incorporado `as praticas literárias brasileiras, sendo assim os modernistas de 30 estão mais voltados ao drama do mundo e ao desconcerto do capitalismo.

"Este é tempo de partido, / tempo de homens partidos. (...) Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. / As leis ano bastam. Os lírios ano nascem da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se / na pedra." (Carlos Drummond de Andrade, in Nosso Tempo)

Características da segunda geração modernista:

* Repensar a historia nacional com humor e ironia - " Em outubro de 1930 / Nós fizemos — que animação! — / Um pic-nic com carabinas." (Festa Familiar - Murilo Mendes)

* Verso livre e poesia sintética - " Stop. / A vida parou / ou foi o automóvel?" (Cota Zero, Carlos Drummond de Andrade)

* Nova postura temática - questionar mais a realidade e a si mesmo enquanto indivíduo

* Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu papel de poeta

* Literatura mais construtiva e mais politizada.

* Surge uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo (Cecília, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vinícius)

* Aprofundamento das relações do eu com o mundo

* Consciência da fragilidade do eu - "Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do mundo" (Carlos Drummond de Andrade - Sentimento do Mundo)

* Perspectiva única para enfrentar os tempos difíceis é a união, as soluções coletivas - " O presente é tão grande, ano nos afastemos, / Ano nos afastemos muito, vamos de mãos dadas." (Carlos Drummond de Andrade - Mãos dadas)

EXERCÍCIOS:

1) Qual o período compreendido pela segunda geração modernista? O que mais caracterizou, do ponto de vista filosófico, essa geração?

2) Cite caracterísiticas da primeira geração modernista que foram pacificamente absorvidas e aproveitadas pela segunda.

3) Que rumo tomou a poesia dessa época? Cite os principais poetas do período.

4) Explique a seguinte declaração, extraída do texto: "A geração de 30 não precisou ser combativa como a geração de 22." Por que isso foi possível?

5) Sintetize as principais características literárias da segunda geração modernista no Brasil.